quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

CANTINHO DO VOVÔ



O cantinho do Vovô é sagrado, ninguém o perturba nos seus momentos de descanso, mas, na verdade, é Vovozito que não dá descanso a ninguém.
É assim em todos os lugares, no supermercado, no consultório, na praça onde faz seu passeio diário, sempre puxa conversa com as pessoas e faz alguma brincadeira.

Um dia, no elevador, falou uma besteira tão grande a um senhor muito sério que a filha fez cara de paisagem para conter o riso e tentar disfarçar o constrangimento. 
Não é fácil segurar o Vovozito. Numa consulta ao oftalmologista, o consultório estava lotado e os pacientes atentos aos nomes que eram chamados para o atendimento. A filha, que sempre o acompanha, pediu que ficasse quieto para não tumultuar o ambiente. Piorou, aí é que Vovozito fez questão de fazer piadinha o tempo todo para chamar a atenção.

Ainda vou citar alguns casos de fazer rolar de rir, mas o cantinho do Vovô faz lembrar dos bichinhos da casa.
Além dos peixes, da tartaruga e dos cães Lord e Anik, haviam os pássaros e os hamsters.
O genro do Vovozito era um cliente especial no petshop.

Certo dia, quando foi comprar ração, alpiste, etc., tinha um cachorrinho à venda esperando por um dono. O genro mexeu com o bichinho que começou a rolar de alegria. Quando ia saindo, o cãozinho chorou de dar dó. Isso aconteceu repetidas vezes, ele brincava com o bichinho, um bassezinho com pouco mais de um mês de vida, que rolava com o barrigão pra cima. Quando saía da loja, era uma choradeira.
Quem resiste!
Lá foi o cachorrinho para a casa do Vovozito, dentro de uma caixa de sapato.
O baixinho foi batizado de "Tigrão", uma contradição, mas todos se divertiram com a escolha do nome.

Pois o Tigrão resolveu se tornar o fiscal de Vovozito.
Arteiro como criança, Vovozito mexe nas coisas e muitas vezes quebra alguns objetos da casa. Quando a filha fica sozinha com ele, mal consegue dar conta de seus afazeres porque tem que ficar atenta o tempo todo.

Pois o Tigrão entendeu a situação e todas as vezes que Vovozito faz coisas que normalmente merecem alguma reprimenda, Tigrão dá algum sinal com latidos ou puxa Vovozito pela barra da calça.

Mas os dois são cúmplices em determinadas situações. Acreditem, fazem xixi no mesmo lugar e Vovozito sempre coloca a culpa no Tigrão.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A "DESCORTESIA" DE UM LORD



Domingo, dia de descanso, a família reunida e o centro das atenções é Vovozito.
As lembranças mais significativas, porém, são as de Vovozito com os bichinhos da casa.

Uma amiga muito próxima resolveu adotar um gato abandonado e a "fera", assustadíssimo, ficou semanas espremido atrás do guarda-roupa. Mal se via os olhos brilhando no escuro, mas nada do gato sair na presença de quem quer que fosse, mesmo da dona da casa.

Acompanhando esse fato, voltam à memória todas as peripécias dos animais da família de Vovozito. Sim, foram muitos e de todos os tipos. Dos bichinhos aquáticos, o destaque era um peixe que cumprimentava os cuidadores com beijos no vidro e seguia de um lado para outro os passos de quem se aproximasse do aquário. Infelizmente, num momento de descuido, o peixe saltou pela tampa aberta esquecida por quem havia limpado o aquário e não resistiu.

Outro bichinho paparicado é a tartaruga Ninja que, tempos atrás, deixava um dos cães muito enciumado. Lord era um cachorro grande que vivia no quintal da casa. A tartaruga, ainda pequenininha, vivia cheia de mimos, quase sempre no colo de alguém.
Lord tinha companhia, a cadela Anik, mas se incomodava com os privilégios de Ninja que vivia dentro da residência e era tratada como um bebê.
Um dia, ao chegar em casa de um passeio, um dos filhos logo viu a tartaruga na calçada, com as costas do casco no chão e as patas para o ar. 
Estranho, não tinha como passar da casa para a rua.
O que havia acontecido, afinal?

Dias depois o mistério foi revelado.
Lord, numa de suas tentativas de se livrar da tartaruga, pegou Ninja com cuidado, mas tentou novamente jogá-la para fora de casa. Dessa vez não conseguiu arremessar por cima do muro, então largou-a num canteiro na esperança de que não fosse vista no meio das plantas.
Quem viu a cena teve dificuldade para acreditar em seus próprios olhos, mas depois de muitas risadas, o jeito foi isolar Ninja num espaço que a deixasse protegida das investidas de Lord.

domingo, 9 de dezembro de 2012

DIREITO E/OU JUSTO?


Um questionamento que me persegue, principalmente quando tenho que tomar uma decisão importante, ouvi durante uma palestra, quando alguém da plateia indagou se tudo que é "direito" realmente é "justo".

Criam-se leis que envolvem a sociedade, muitas carregadas de forte emoção, porém, geralmente alguém paga o preço pelo privilégio de quem nem sempre necessita.
É o que ocorre com o trabalhador que paga mais do que deveria pela passagem no transporte coletivo para compensar os benefícios oferecidos a determinados grupos de pessoas, muitos carentes, mas nem todos, e que talvez tenham mais condições de bancar esse tipo de despesa do que muitos que utilizam o serviço diariamente.  

Há casos, também, que passam a ideia de que uma lei visa oferecer oportunidades, mas, por outro lado, pode colocar em risco o direito aos benefícios estabelecidos pela própria lei.
Cito como exemplo a lei de inclusão para pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Bravo!
Aplaudo a iniciativa, porém, apresento o caso de uma família que solicitou o pagamento de pensão, ou seja, o direito de receber a aposentadoria do pai falecido a uma jovem totalmente dependente, com séria lesão cerebral e que faz uso de medicamentos caríssimos.
A justiça autorizou.
Entretanto, o que seria direito foi rejeitado pelos órgãos governamentais alegando que, de acordo com a interpretação da lei, pessoas com deficiência podem trabalhar.

Esse fato ocorreu com familiares de Vovozito, por isso escrevo com certo ceticismo quanto às "boas intenções" que criam facilidades para certos grupos, como acontece com a bolsa recebida pelos presidiários, geralmente cidadãos saudáveis que poderiam ter uma atividade remunerada para o seu sustento (se não há política pública que dê condições para que isso seja possível, que as autoridades responsáveis busquem os modelos que funcionam em outros países), enquanto isso, quem realmente precisa de recursos para se tratar e não se tornar um peso para a família corre o risco de ter seu direito negado.

Nada mais justo que as pessoas com deficiência tenham o direito ao emprego e sua dignidade respeitada. Não tem porquê condenar alguém nessas condições a ter uma vida inútil e dependente de recursos públicos, desde os casos mais graves até a quem falta apenas um dedinho.
Mas é um absurdo generalizar, há casos em que a capacidade para o trabalho está totalmente comprometida e tanto o direito quanto a decisão da justiça deveriam prevalecer.
Nesse caso, sob meu ponto de vista, é direito e é justo.