Lá vai o vovozito no seu passeio diário. Leva aproximadamente uma hora para dar a volta no quarteirão.
Na esquina mais próxima dá uma parada na farmácia. Lá tem um menino muito sem educação que dá chute nas canelas dos clientes, mas Vovozito tira de letra e, em sua inocência, acaba assustando o coitado com trejeitos que lembram uma criatura das "trevas". Faz chifrinhos, olhar macabro e ruídos tenebrosos, afinal, chamam o menino de "Capeta".
Na sua mente deve achar isso mesmo, pois é de uma geração que nem se imaginava crianças agredindo adultos e, além disso, seus netos são muito comportados. Portanto, apesar de gostar de bater papo com os funcionários da farmácia, deu um jeito de se livar das diabruras do filho dos proprietários.
Na rua de trás, Vovozito entra na padaria para "pertubar" as atendentes a quem chama de "menininhas". E olha que duas delas são senhoras, talvez vovós, mas Vovozito nem percebe ou as considera realmente jovens, comparando com seus oitenta e tantos anos de idade. Suas irmãs já passaram dos noventa e ele continua se referindo a elas como meninas.
Passa pelo sacolão, mesmo sem comprar nada, pelo açougue e dá uma parada no barbeiro. Sua barba é feita diariamente e a família já deixa a conta previamente paga.
Mas o que chama a atenção são os "causos" que Vovozito conta. Poderia ser apenas um jeito de jogar conversa fora, não haveria motivo algum para ser levado a sério, se não fosse pelo fato de inventar umas mentiras perigosas.
Há quem se preocupe seriamente com as consequências dessa sua imprudência. A amiga mais próxima da família sempre alerta para um caso no qual o filho de uma senhora idosa havia sido preso injustamente por maus tratos, simplesmente porque vizinhos resolveram denunciá-lo por conta das reclamações constantes da mãe, sem antes confirmar a veracidade do que dizia. Quando foi diagnosticada a doença da senhora, o mesmo mal que afeta o Vovozito, e se verificou que tudo não passava de imaginação, foi difícil consertar o estrago e lidar com as perdas nem sempre reparáveis, como o tempo que deixou de cuidar da mãe, o emprego e a confiança dos amigos.
Nessas circunstâncias, o risco é evidente. Mas de que adianta sofrer por antecipação?
A família de Vovozito pede a Deus que ilumine a mente das pessoas e os proteja a todos, pois não há nada mais que possam fazer além do que já é feito, com muito carinho.
Vovozito, temos muito deles em nossa volta, lindo texto, eles querem atenção, as vezes não temos tempo pra eles.
ResponderExcluirTenha uma ótima semana.
Agradeço o comentário tão gentil.
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